Depois da quinta semana, seguiu-se a sexta e a sétima. A quantidade de trabalho foi tanta, que não consegui ter um tempinho de voltar aqui e escrever as impressões das apresentações e do final da temporada. Na última semana, fizemos 06 apresentações em apenas 04 dias.
Pessoalmente, acabei a temporada feliz, mas esgotada. Não tanto fisicamente, pois o espetáculo não tem uma demanda corporal muito grande, mas emocionalmente. O nível de concentração e de envolvimento que o texto exige é grande e, estar sempre no "fio da navalha," é algo que esgota. Não se pode apenas executar, repetir, é preciso vivenciar. E essa vivencia, quando se dá mais de uma vez ao dia, pode chegar a ser desgastante.
Ainda assim, fico muito feliz de ter feito uma temporada tão linda. Todos os dias, desde a primeira semana, tivemos a casa completamente cheia o que nos leva a pensar que a acolhida do público foi muito generosa. As pessoas gostam. Se emocionam e refletem sobre o vazio existencial de cada uma das personagens. Encontram semelhanças com as situações que vivem ou viveram e sentem que saem mais fortes, ainda que com uma leve desconfiança sobre a possibilidade da felicidade. Este é o retorno que temos tidos nas conversas com o público no cenário depois de cada apresentação, enquanto retiramos algum objeto de cena.
Essa proximidade com o público é surpreendente no Galpão e revela o quão é verdadeira a frase que Eduardo repetiu nos últimos espetáculo: "agradecemos especialmente ao público que é a grande razão do nosso teatro". A primeira vez que a ouvi, durante o agradecimento, me comovi, pois há uma conexão muito especial entre os atores e o público e essa conexão é preenchida de afeto e respeito mútuos.
Além da temporada, fui convidada a participar do treinamento do Jurij, o diretor russo que está fazendo um trabalho com a outra parte do Galpão e vai dirigir a próxima montagem sobre Tchékov no final do ano. Espero ter outra oportunidade de descrever a experiência em detalhes. Agora resta dizer que tem sido especialmente prazeroso e de grande ensinamento sobre o universo do autor russo e sobre o próprio teatro, em sua essência.
Na última semana fomos para Londrina. Enfrentamos, de novo, um grande teatro. Tivemos que tirar as pernas do palco, pois a vestimenta não estava adequada, e esta operação gastou grande parte da montagem e da adaptação dos atores. No primeiro dia, quinta-feira, achamos que o espetáculo foi projetado de mais. Na intenção de projetar a voz e se fazer ouvir, não soubemos segurar tão bem a vida externa do personagem e o espetáculo, nas palavras da Yara, ficou "declarado". O Cacá Carvalho foi nos ver e comentou muitas coisas importantes para a retomada do trabalho no dia seguinte. O segundo espetáculo, na sexta, foi muito bom. Conseguimos encontrar melhor essa linha tênue entre a projeção e a vida interior, ou submarina, das palavras. Nosso desafio é encontrar isso desde o primeiro dia, agora que já colocamos o pé na estrada e a cada dia estaremos em uma cidade diferente.